HOMENAGEM A MINHA AVÓ E BISAVÓ

CONTOS

Seguidores

New Translator....

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ladrão de Guarda-chuva


Ladrão de Guarda-chuva

Juvenal Romero num lugar que talvez não exista, mas que chove isso todos sabem!
Chove muito, não simplesmente chove, não sabem quando caiu à primeira gota, alguns sonharam durante anos, com a ultima, só sonho besteira de garoto, pois esse rio que caiu do céu é cachoeira certa, ninguém se afoga, nem atola, eram poucos que lá moravam, onde mesmo?

Poucos sabem chegar lá!
Poucos de lá trazem noticias, e os que o fazem chegam molhados.
Já são molhados de alma, essa chuva cai há anos, e os poucos que moram lá têm cada um seu guarda-chuva.

Juvenal velho sozinho e que tem seu guarda-chuva, o mesmo há 36 anos, preto impecável, cabo de madeira, liso de manuseio, um dia um estalo, um sorriso maroto, Juvenal viu um guarda-chuva estacionado e calado, do lado de fora do comercio armarinho. Venda que tudo tinha e tinha de tudo um pouco, toucinho de porco, peão de madeira, bolinha de gude e tachinha, farinha de milho, mandioca e de rosca, de trigo também tinha.

Ali solitário e mudo um guarda-chuva com dono, pois todo habitante tem.
Mas um pensamento rolava e Juvenal, velho e serio inconteste, surrupiou, o certo é que roubou!
Rápido e com o pensar, enfiou na perna da calça, larga e bem passada, o cinto é só enfeite e frouxo, facilitou, sem falar, pois é calado, saiu como entrou, lá fora passou, por uma Dona e sua menina, que foi a única que o fitou.
Esse era um homem esperto, sentiu que a criança se virou e olhou.
Caminhou sorrindo só, pois pensava, de quem era a peça que ladrou. A cara do sujeito, a estranheza de sair e enfrentar cachoeira sem resguardo, antes teria  de procurar, para um lado e para o outro, nada encontrando, cara de bobo e pasmo, sairia correndo ou não em direção ao mundo molhado lá de fora.


Isso deixa esse velho sorridente e vivo.
Mas a noite um café, veio à culpa a toa, mas passou, levou um segundo, mais idéias e sorriso, mas o rosto da menina era uma luz no fim do túnel, a beleza e encanto, toava a perfeição, assim dormiu e sonhou.
Passou dias sem sair, numa tarde de chuvinha fina e traiçoeira, resolveu andar na vila, como gato na escuridão sorrateiro e silencioso, notou que alguns vizinhos deixavam suas peças na varanda penduradas, foi ai que o ladrão, surgiu no coração, entrou num quintal, recolheu dois guarda-chuvas que de quatro eram mais belos, novamente uma sensação interior de loucura e alegria, ao pensar, de quem subtraia.
E assim o tempo passa, todos sabem bem molhados, pois agora Juvenal, tinha em casa a maioria de guarda-chuvas bem guardados e as pessoas, ficou sabendo que as roupas secavam, na sala, ou na cozinha, mas poucos se desesperavam, agora vez ou outra ele ouvia comentários, cogitações, quem era o ladrão.

Até o dono da venda, perguntou a ele, quem achava, quem era o surrupiador, Juvenal olhou nem respondeu, continuou seguindo nas compras em solidão.
Ai entra no comercio, a menina, que é a única que o fita direto no coração.
A mãe a puxa, mas os olhos seguem na direção, ela não sabe a razão, Juvenal ainda rouba, novos e usados e os anos vão passando e a menina, moça vira.
Ela parece um pouco triste, qual será a razão. Ele dorme sonha com ela, pergunta sem resposta, porque não há sorriso. Neste rosto de sublime perfeição.
Juvenal imaginava todas as coisas de menina, mas não via uma grande razão, para falta de sorriso na menina, que o fitava e o desarmava por inteiro.
Desligou o pensamento e continuou a furtar os guarda-chuvas de todos, até que um dia viajou e voltou muito feliz, pois longe daqui, que já é longe de tudo, comprou um guarda-chuva, não que precisasse, mas lembrou da menina.
Alegre e satisfeito imaginava, como um sorriso tirar, deixar na varanda da casa, a mãe podia não aceitar.
Então criou coragem e a casa dela foi, bateu na porta e recebido pela menina-moça com um sorriso encantador.
Sentiu-se satisfeito de ver e saber que mais bela ficava. Ela chamou a mãe, Juvenal sem rodeios disse para a dona, que tinha um presente para a pequena e princesa, a mãe sorriu e pediu que entrasse, foi o que fez, logo entregou na mão e o nome de Patrícia soube, logo era evidente um guarda-chuva de presente, mas a cor e que assombrou, um vermelho vivo ardente, e Patrícia toda feliz muito sorridente disse:

- Nada haver igual ao belíssimo presente.
Juvenal recebeu um beijo no rosto da menina-moça, foi o maior surpresa, que nunca saiu da sua mente.
Agora quando encontrava sempre tinha alegria estampada na menina-moça e um vermelho vivo cobria e resguardava os belos cabelos dela.
Juvenal não deixou de roubar, vamos dizer furtar e a coleção crescia e o tempo passava mas com alegria, Patrícia o aclamava era um amigo e assim se vivia.
Patrícia notou um dia que seu amigo havia sumido, preocupada então, visitou a moradia, bateu na porta e ouviu,  que podia entrar sem demora.
Encontrou Juvenal com livro e muito velho estava, entre os dentes tinha um esverdeado profundo, seus olhos de moribundo e um meio sorriso curto, morrendo entregou a ela uns documentos secos e disse:

- Guarde contigo isso é de suma importância!

Patrícia se encantou mais uma vez com o velho e ou deixou sozinho, pois foi pedido dele.


Passou um mês exato e soube a mulher hoje inteira que Juvenal bateu as botas, comovida olhou direto para o vermelho vivo, do guarda-chuva belo, lembrou dos documentos e agora eles foi ler, surpreendida foi, tudo que dele era, era dela, sem conversa, assinado e lavrado.
Uma casa inteira e dinheiro e muitos livros, aquele velho bandido, tinha o coração amolecido.
Esperou dias passarem, espero defunto esfriar e com tanta chuva foi rápido.
E para a casa deixou-se levar, entrou solene e os livros, quis visitar, olhou e tinha Gabriel Garcia Márquez, Neruda, Plínio Marcos, Sabino, Pessoa, Drummond, Cora Coralina, um dragão de Bruna Lombardi e mesmo com tanta umidade, todos limpos e lindos, amou conhecer um pouco do velho Juvenal, achou que havia ganhado um festival, abriu portas e armários e tudo era normal, até uma porta no final.
Ai seu sorriso abriu, virou gargalhada de peça teatral, pois lá encontrou um segredo crucial, mais muito emocional.
Todos os guarda-chuvas roubados pelo velho Juvenal.
Assim só ela descobriu quem furtava a todos nesta cidade, onde a chuva cai cachoeira e agora era ela que sorria faceira e ria sem eira nem beira, sentou no chão e não acreditava na quantidade de guarda-chuva que ali se via. Eram todos que já tinha visto, mas nenhum vermelho se via, igual ao seu não existia, maravilhada sabia que o velho a escolhia como herdeira e protetora de um estranho desejo.
Patrícia vivia o dia mais belo e nunca iria se desfazer daquela alegria. Por isso se conta até hoje que num lugar distante, chove, chuva como cachoeira e ainda se toma cuidado com guarda-chuva, pois lá são bens e podem sumir ou serem roubados.

Por aquela linda e faceira, mulher que anda sorrindo com um guarda-chuva sangue vermelho!


Heleno Vieira de Oliveira
Pouso Alegre
07/02/2009
São Paulo
12/03/2009



terça-feira, 4 de maio de 2010

Santo que ri

Santo que ri

Um ser muito estranho numa noite quente e bebível. Muita cerveja havia, mentira de bêbedo, garrafas vazias e a conta.
Mas sujeito falador (e eu ouvido de bêbado) me contou, acredite, que do céu voltou. Mas isso não é importante, pois o que me falou é que tem relevância!
São José Atento conheceu, foi auxiliar expulso, vou relatar o porque:

- Na eternidade Santa o que fazer para o tempo passar?
Escutar!
Misérias, pedidos e reza em enterros, missas diurnas, padres bandidos, coroinhas virgens, virgens de mentirinha, mas sempre escutar, rir até chorar.
Eu não lembro o nome do bêbado, mas em mim tens que acreditar, pois para São José Atento eu nunca vou rezar, prefiro São José Operário, que nunca abandonou o trabalho.
Olha que passagem louca, ninguém queria ir. Num feriado do céu o Papa faleceu. Sobrou para Roma ir . São José Atento, pura confusão. São Pedro brigou, mas a ficha era dele e João Paulo foi velar.
Riu até cair no chão da Capela Cistina, no Vaticano.
São Jose Atento ouviu suplica de Cardeal, choro de Bispo, irmã prima do defunto. Polonês eu não entendo. Acendeu um cigarro e foi fumar. Deixa para lá, ninguém nunca soube o que se pediu ou disse, pois quem secretariava era esse bêbado que me conta agora, e como não era Santo foi olhar a multidão na praça.

Bom achou muito essa passagem. Não foi a mais preciosa. Agora , vem aquela que esse bêbado foi expulso e voltou para a terra.

Um enterro, muita suplica. Havia choro e gritaria, cachaça e comida. Era tudo que se queria, homem e político. Nesse dia, São José Atento não queria ir, mas um outro pediu tanto que lá foi ele ranzinza.
Chegando, viu muitos ternos e gravatas. Cachaça para os pobres. Vinho, whisky e empadinhas para os ricos.

Eram três em volta da viúva, eram muitos putos, pois queriam era a conto, onde o defunto escondia dinheiro roubado, dinheiro de caixa 2. São José Atento foi ficando puto.
Pois de joelhos filhos e primos, moça nova e amante, isso não é terra, é puro purgatório, que coisa usar o nome do Pai e Espírito Santo.

Todo mundo preocupado com o dinheiro bandido. Fumando e aflito, São José Atento só pensava, “algo aqui tem que ser feito, algo mais bandido ainda”.

Olhou para a viúva gostosa e safada. Mulher bem feita. Resolveu abandonar tudo, parar de escutar e viver bem do lado dessa danada, pois como Santo, tinha os números da conta numerada. Fugiu e viveu bem, até outra gostosa e muito mais safo passar. Deixou a viúva ao léu, caiu de vez na gandaia. E o bêbedo que me contou, foi expulso sim senhor, pois o Santo não salvou!

Heleno Vieira de Oliveira
17/02/2009

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails