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segunda-feira, 14 de março de 2011

O Menino

O Menino

Sei que isso aconteceu, pois foi um amigo muito querido que contou e nele eu acredito sim. Ele tem um colega de trabalho que ao sair de férias viajou para levar um presente de seu pai a uma parente distante, uma prima de longa data que não via há tempos. Foi lá prós lado de Montes Claros, Bocaiúva, Turmalina, Francisco Sá, Salinas... tudo isso para que saiba que ele foi para Grão Mogol, terras quase perdidas, distantes de tudo e todos. A viagem demorada e com grande quantidade de parada, mas tudo correu bem. Chegou, foi festejado por meia dúzia de olhos, de gente sem nome ou parentesco. Desceu uma pequena rua e mais olhos os vigiavam. Pouco estranhos aqui chegava. Bateu palma e uma mulher que perguntou “que vem lá”, disse ser tal menino, filho do seu primo. Um sorriso largo e branco abriu os braços e veio negra, linda e bem feita. Soraia era seu nome.
Aos pouco esse moço foi vendo que estava num lugar pequeno e que a maioria se conhecia. Todos já sabiam que ele era visita e, bem querida. Todos o cumprimentavam e o saudavam. Gostava de sair e andar, o sol quente a queimar. Perto havia uma venda, senhor negro de doer. Vendia um pouco de cada coisa, mas lá tinha cachaça e cerveja, a gelada muito bem apreciada antes do almoço ou à tarde de preguiça ficava. Foi fazendo amizade e a todos era educado.
Foi ficando. Tinha férias e bebia um rio de cachaça de alambique feita no fundo do quintal do João do beiço. Já era quase amigo, mas mantinha o respeito, enturmou com os do truco e ali lambeu o zape e na testa espalmou. Grita e divertia, era troça quando perdia e de dia em dia, duas semanas, já era conhecido como o primo mais moço. Era de tarde, para frente à cachaça que no copo gemia e depois juntava a turma do truco, e a noite se fazia. Um dia, João do beiço fechou e ele ainda ali jazia com os passos em desacertos, sofria, e a escuridão da rua era uma cortina negra e fria, só um cão aqui ou lá, pequenos latidos ele ouvia.
No décimo terceiro dia, não houve sol. Somente um céu amargo, sem cor, parecia sem vida. Bebeu cachaça, mas animação não sentia ninguém veio ao carteado.
Em tom serio João olhou e disse:
- Essa noite vá embora cedo, pois tem coisa solta e não é boa, de um ouvido para o outro, uma saideira engoliu!
 Sai sem falar nem agradecer. Estava tonto e não tinha nesta noite prazer. Sentia o corpo pesado e a cada passo mais cansado. Havia algo diferente, pois a distância era mais longa e a casa da prima não chegava, andando meio perdido e numa árvore grande que não conhecia sentou e ali o sono veio feito grande peso.
Não sonhou nada, mas o sol estava queimando o rosto e viu que estava num vilarejo de poucas casas. Acho que havia caminhado para fora da cidade. Olhou e viu algumas imagens, ainda um pouco atordoado, levando ainda pesado, mas, sentiu a brisa quente e a fome levemente. Uma mulher nova e bonita num varal a roupa pendurava, não parou de fazer o que estava, mas, pro moço olhava. Notou um ser, era homem montado num cavalo negro que chegava de algum canto. Na frente para onde caminhava, uma venda, daquelas que tudo tem. Quem sabe cachaça e cerveja gelada para matar a ressaca?  E o estômago reclamou de comida bem feita e cheirosa.


Caminhou, e foi olhado pelos dois que aqui fora estavam. Devagar, pois ainda mole continuava e chegando à porta foi entrando, e ao se acostumar com a pouca luz, viu O Menino sair correndo e para o terreiro perto da arvore sentou, na mão tinha alguns brinquedos. Mas o moço continuou e lá dentro outros três um do lado de dentro de um balcão. Um homem que o bigode chamava toda atenção, uma senhora de certa idade e um senhor azul de tão negro. Deu bom dia a todos e todos olhando estranhando, responderam respeitosamente. Aproximou-se e pediu o que numa geladeira com vidro a cerveja gelada que queria. Foi dito que ele podia se servir, o que fez depois se voltou ao senhor negro e disse:
- A que distância estou de Grão Mogol?
- (Com olhar perdido) Não conheço não!

Saiu , e com a bebida deu uma volta no meio do terreiro e notou que só havia uma árvore e nenhuma estrada. Não havia morro, não havia nada a sua frente. Ficou intrigado e deu a volta nas três construções que havia e notou espantado que atrás nada havia também. Coisa esquisita, e... para onde ir? Que caminho seguir? Voltou, e a Bela e o homem do cavalo lá dentro se encontravam. Olhando para ele parara de conversar e depois, a Bela veio e perguntou de onde ele era e vinha?
Respondeu sem muita certeza. Os espectadores não faziam idéia do que falava o Moço. Como notou o jeito, perguntou onde estava e a resposta veio num único som:
- Aqui!
- Sem nome ou qualificação? Onde fica aqui?
- Sempre foi aqui!
 O moço achou que sonhava, para garantir, perguntou?
- Tem algo para comer?
- (A Senhora de idade avançada) Daqui a pouco vamos comer e você é convidado!
O Menino entrou e pediu água e todos deram atenção para ele, mas a água veio da mão da Bela, o que era estranhíssimo. Ele usava uma roupa branca e que no terreiro nem poeira nela tinha. Que coisa!!! Mas, antes de sair O Menino veio ao Moço e perguntou?
- O Moço vai ficar muito?
- Não. Vou embora logo. Por quê?
- Pensei que faria uma pipa!
Saiu sem mais nada dizer, o que fez o Moço ficar pensando. A Bela veio conversar dizendo que O Menino dele gostava, pois pediu algo com que sonhava. Pena, mais vou embora logo. O Negro de longe disse:
- Quem sabe!
Sentou sozinho e pensava no que estava acontecendo e onde estava agora. Que povo estranho que o agregaram sem muito pergunta. Para onde ir de depois de comer?
Um vento forte trouxe O Menino para dentro e assim que entrou a Senhora disse:
- Vamos comer! O que O Menino sorriu e a uma mesa sentou. Logo foi servido e o que pedia lhe era trazido. Um doce de sobremesa, um suco gelado de aparência natural, depois, foi ao chão num canto e voltou a brincar. Chamaram o Moço e todos sentados na mesma mesa. A Senhora servia um a um pratos diferentes que trazia da cozinha. Para mim um filé suculento, arroz branquinho e salada de alface e tomate, aroma delicioso. Sem pedir me trouxe um, dois, três quindins. Parecia acabado de ser feitos, macio, e saborosa uma coca-cola geladíssima e tudo muito bem limpo. Um café forte e tudo era muito fácil. Algo de errado acontecia, mas a fome, e devia ser um sonho... depois de um tempo o Moço foi para fora saber para que lado ir, não estava acreditando o que lhe ocorria e pensava se merecia.
As horas foram correndo e o sol de trás da casa para frente, até ficar a pino. Meio dia devia ser, (pensou), almoçamos cedo. Voltou para dentro o Bigode, veio a Lea e trouxe uma cachaça antes de pedir. Não estranhou mais nada e deixou tudo andar da forma que tinha que ser achava!
Assim jantaram e outra vez comeu o que pensava o que queria e sonhava, mas algo muito estranho aconteceu. À noite nua e negra lá fora coalhava ,e o Menino brincava até que,numa caminha pequena ele deitou e todos olhavam como que esperavam algo e o Homem do cavalo partiu, a Bela também o seguiu ,e o três e o Menino comigo ali estavam, aos poucos as luzes foram diminuindo , a Senhora me trouxe uma coberta, cobriu o menino e na escuridão sumiu. Demorou alguns minutos e tudo estava muito escuro e a confusão nele habitava.
Acordou e já viu que O menino lá fora estava. O Bigode lhe trouxe um café e pão de queijo quentinho, mais um. Nos olhos tudo era muito lindo. Bela entrou e bom dia deu.
- O que esta havendo???(gritou)
 Todos olhavam, mas nada diziam, e continuavam sem ao menos sentir a angústia que nele pressionava. Veio o Menino e perguntou:
- Moço!Vai fazer a pipa?
- Não! (com o rosto contorcido)
O Menino sorrindo foi beijar a Bela e água pediu e uma cachaça o bigode lhe deu. Abriu a geladeira e também cerveja. Ali ficou imóvel sem saber o que queria e o que fazer e os dias foram consumidos e as horas não lhe fazia qualquer coisa, pois estava num estado de entorpecido. Um dia ensinou o menino como colocar uma fieira num peão e o menino jogou, e o peão continuou a girar na terra por um tempo impossível. O Moço olhou para o lado e ninguém estranhou só ele, o Menino sorrindo e pulando, dizia:
- Gira, gira! E de lado a lado corria!
 
O peão não se cansou e continuou o Menino, sentou do lado e ficou de olho grudado. O Moço pasmo e boquiaberto nada sentiu se não um grande vazio, pois não podia explicar o que estava ali.
O Menino se cansou e não olhou mais para o peão e assim parou de girar e tombou.
- O Moço vai fazer a pipa?
- Não! (Respondeu). Entrou e novamente sozinho ficou!
Na manhã seguinte a décimo terceiro, o Negro na mesa lhe mostrou uma faca e um pedaço de bambu, cola e papel de seda. Como isso é possível?(pensou, mas nada disse) Tomou um café, sentou na porta e começou a fazer a pipa, que em outros lugares era conhecido também por: Quadrado, Pandorga, Maranhão, Barrilhete, Raia, Papagaio... mas, para o Menino pipa. Fez como sabia, desde seus onze anos seu tio José Carlos Serafim o ensinara e o Pai aperfeiçoara na arte de fazer e empinar. Foi com um esmero único e sadio. Foi com vontade e toda liberdade. Foi prazeroso, e muita paz lhe trouxe. Por isso caprichou muito com as varetas afinadas na perna com a faca e usou a linha e a armação bem equilibrada, depois passou cola no lado certo do bambu e na folha de seda vermelha depositou. Cortou na forma exata e colou, o estirante posicionou e assim que acabou a rabiola foi feita rápida e tudo belo ficou. Orgulhoso do feito olhou e viu que todos junto ao menino esperavam, e com isso, com aquele vento foi fácil fazer a pipa subir. Ensinou o menino a manobrar, ou seja, debicar em movimentos rápidos e precisos com a mão, a linha faz a pipa ir para o lado que se quer. Assim, o menino ficou encantado, empinou o dia inteiro, não parou para comer. À noite recolheu a pipa do ar e ao entrar agradeceu e disse:

- Moço adeus!
 Nada mais foi dito...
Ao acordar, no outro amanhecer, o Moço estava embaixo de uma árvore a duas casas da Soraia, mas sentia-se diferente e estranhamente contente. Entrou e foi saudado pela prima como se nada tivesse ocorrido e nenhuma pergunta foi feita. Arrumou a mala e, quis partir. Despediu-se e foi ao bar do João do Beiço, tomou uma cachaça e ouviu do João algo que nunca esqueceu:
- Como é que vai O menino? Quando precisamos acordar para a vida ele pode aparecer!
E assim esse moço partiu com um certo ar de não saber o que aconteceu, mas tudo havia mudado. Nada tem realmente um valor, tudo pode ser uma ilusão, ou não!
Eu acredito que tudo aconteceu realmente, pois foi um amigo que me contou e a cara dele dizia que era verdade . . .


Heleno Vieira de Oliveira
São Paulo de 23 de Fevereiro
 06 de Março de 2011



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